Uber e 99 não cobram taxas fixas dos motoristas, mas ficam com a diferença do que o passageiro paga e o motorista recebe. Segundo Eduardo Lima, presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos de São Paulo, essa diferença pode chegar até 50% do valor total do serviço.
Publicado em 15/08/2019 – Atualizado em 11/04/2022
Quando os aplicativos de transporte chegaram no Brasil, a gente ouvia falar muito da taxa de serviço.
Ela era um valor fixo que Uber e 99 cobravam direto do valor final da corrida.
A empresa norte-americana cobrava 25% nas corridas UberX e 20% nas corridas da categoria Uber Black.
Já a 99 buscava ser competitiva com uma taxa bem menor. O app brasileiro já chegou a cobrar 12,99% em cada corrida.
Então, por exemplo, quando o passageiro pagava R$ 20 em uma corrida UberX, R$ 15 iam para o bolso do motorista e R$ 5 direto para a empresa.
No entanto, como você já deve saber, isso mudou.
Contexto do Brasil
No segundo semestre de 2021 uma crise atingiu os dois principais aplicativos de transporte do país. A insatisfação era crescente com as plataformas: tanto por parte dos passageiros, mas principalmente, por parte dos motoristas.
Os passageiros reclamavam da dificuldade em achar carros e dos constantes cancelamentos por parte dos condutores. Porém, a raiz desses problemas estava justamente na insatisfação dos que estavam atrás do volante.
Os motoristas reivindicavam a falta de ajustes das tarifas para acompanhar os crescentes custos de serviço que a categoria tinha. Além disso, as taxas dos aplicativos se mantinham as mesmas (ou cresciam), em um momento onde os preços dos combustíveis já estavam em alta.
A diminuição da lucratividade da atividade estava tornando difícil para os motoristas fecharem suas contas. Muitos optaram, inclusive, por deixar de trabalhar para as plataformas, o que agravava ainda mais as queixas dos passageiros. O portal G1 chegou a informar que, na época, 25% dos motoristas da cidade de São Paulo tinham largado o serviço.
Quanto a Uber e a 99 cobram dos motoristas hoje?
A Uber e a 99 não cobram mais taxas fixas por viagem. Os aplicativos agora ficam com a diferença do que o passageiro paga e o motorista recebe, gerando uma taxa variável.
Segundo a Uber, sua taxa varia entre 1% e 40%, mas sem impactar nos ganhos do motorista, que recebe sempre por tempo rodado e distância percorrida.
Por exemplo, pela 99, se você fizer uma simulação de corrida na região central de São Paulo, como passageiro, terá as seguintes tarifas:

A 99 divide as regiões de acordo com o número de passageiros e fluxo de viagens. Na cidade de São Paulo e arredores, o aplicativo divide o local em 4 áreas diferentes. Em cada uma dessas regiões, o motorista pode ser remunerado de uma forma.

Já a Tabela de Remuneração para motoristas 99, disponível na versão mobile do site da empresa, apresenta valores que foram atualizados pela última vez em 24/09/2021. Portanto utilizaremos a tabela acima, que pode ser encontrada no site da empresa, como referência.
Falando especificamente da Zona 1, onde se encontra a capital paulista, a 99 paga as seguintes tarifas:
- Tarifa base: R$ 1,50;
- Ganhos por Km: R$ 1,35;
- Ganho por minuto: R$ 0,23;
- Tarifa mínima: R$ 6,50.
Dessa forma, se realizarmos uma viagem de 20 minutos e 6 km, temos que:
- Passageiro paga: R$ 2,35 + (R$ 2,52 x 6 km) + (R$ 0,23 x 20 minutos) = R$ 22,07
- Motorista recebe: R$ 1,50 + (R$ 1,35 x 6 km) + (R$ 0,23 x 20 minutos) = R$ 14,20
Dessa forma, a 99 fica com R$ 7,87 nesta corrida, o equivalente a cerca de 35% do valor do serviço.
Assim, a “taxa do aplicativo” virou a diferença do que o passageiro paga e o que o motoristas recebe.
A Uber trabalha da mesma forma e ela explica que a taxa de serviço varia pois o passageiro é geralmente cobrado pelo valor previsto. Já o motorista recebe pelos minutos e quilômetros que de fato rodou.
“(…) um motorista aceita uma viagem e demora mais do que o previsto, pois ele pegou um mega trânsito no caminho. Nesse caso, o valor estimado para o passageiro, antes do início da viagem, pode ficar abaixo do valor final da viagem. Aí, para garantir o valor para o passageiro e o ganho real por tempo e distância do motorista parceiro, a Uber acaba compensando essa variação”
Uber, em seu site
Na Machine, aplicativos podem cobrar automaticamente por porcentagem ou valor fixo por corrida
Os aplicativos de transporte que usam a tecnologia da Machine tem a funcionalidade da carteira de créditos.
Dessa forma, os motoristas fazem uma recarga prévia e o sistema vai debitando automaticamente a quantia definida pelo gestor do aplicativo de acordo com as corridas realizadas por eles.
Neste caso, podem ser cobradas uma porcentagem do valor total da corrida ou um valor fixo.
A porcentagem final da corrida é aquele modelo original da Uber que falamos no início do texto, ou seja, se a corrida custou R$ 100 e você definiu uma taxa de 20%, o sistema vai debitar R$ 20 da carteira de créditos do motorista.
No caso do valor fixo, o gestor pode definir que, independentemente do preço final da corrida, o sistema sempre vá debitar um valor fixo, ou seja, se a corrida custou R$ 100 e você definiu uma taxa de R$ 1, o sistema vai debitar R$ 1 da carteira de créditos do motorista.
Também é possível mesclar as duas formas. Assim, o gestor pode definir que até um determinado valor ele cobra por porcentagem e, em seguida, por valor fixo, e vice-versa.
Muitos aplicativos também preferem cobrar mensalidade dos motoristas.
Neste caso, é importante ficar atento aos relatórios que a plataforma disponibiliza e controlar a inadimplência para não prejudicar a empresa.